A Vizinha Perfeita, documentário dirigido por Geeta Gandbhir, estreia na Netflix em 7 de novembro de 2025. Com 1h36min, o filme reconta o trágico tiroteio de 2023 em Ocala, Flórida, onde a vizinha branca Susan Lorincz matou Ajike Owens, mãe negra de quatro filhos, após disputas rotineiras. Construído inteiramente com imagens de câmeras corporais da polícia, o longa expõe falhas sistêmicas em leis de autodefesa e tensões raciais. Abaixo, analiso se essa produção de 2025 merece seu tempo na plataforma de streaming.
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Premissa chocante e imersiva
O documentário foca em um incidente que começou com queixas triviais. Lorincz, 60 anos, ligava repetidamente para a polícia alegando que crianças negras jogavam barulhentamente perto de sua casa. As filmagens mostram oficiais chegando à cena, interagindo com vizinhos e questionando as acusações exageradas. A tensão culmina em um confronto fatal, quando Owens, exausta com as provocações, vai confrontar a vizinha.
Sem entrevistas ou narração externa, o filme usa apenas footage pré-existente: chamadas de emergência, gravações de celular e câmeras corporais. Essa escolha cria uma sensação de voyeurismo cru, como se o espectador estivesse na rua durante os eventos. A abordagem evita sensacionalismo, mas constrói um dread inevitável, destacando como uma disputa banal pode escalar para violência letal.
Direção inovadora e uso de material bruto
Geeta Gandbhir, roteirista e diretora, transforma evidências policiais em uma narrativa coesa. Conhecida por trabalhos como Call Me Dad, ela adota um estilo minimalista, deixando que as imagens falem por si. As câmeras corporais capturam expressões de pânico, indignação e inocência fabricada, criando uma “nova gramática” para o true crime, como descreve o Guardian.
A montagem é precisa, alternando entre visitas policiais rotineiras e o caos do crime. Isso revela a passividade das autoridades, que ignoram sinais de assédio apesar de evidências de armas na casa de Lorincz. O resultado é um filme que não julga abertamente, mas força o público a confrontar as implicações. Apesar da brevidade, a direção mantém o ritmo tenso, sem pausas desnecessárias.
Temas de raça, medo e leis falhas
A Vizinha Perfeita mergulha em questões profundas. Central é a lei “Stand Your Ground” da Flórida, que permite uso de força letal sob presunção de ameaça. O filme ilustra como ela favorece atiradores brancos em casos envolvendo vítimas negras, ecoando o assassinato de Trayvon Martin em 2012. As crianças chamam Lorincz de “Karen”, termo que simboliza privilégio racial, enquanto relatos de insultos racistas emergem nas gravações.
Outro foco é o medo irracional: Lorincz alega terror das crianças, mas as filmagens mostram o oposto. Gandbhir critica a normalização de armas nos EUA, questionando por que policiais não investigam compras ou treinamento de armas durante interrogatórios. O documentário também humaniza a comunidade negra, retratando vizinhos solidários que vigiam uns aos outros, contrastando com o isolamento de Lorincz.
Impacto emocional e sensação de futilidade
O filme evoca raiva e tristeza profunda. Ver mães defendendo filhos em um bairro próprio é devastador, especialmente com o filho de Owens presente no tiroteio. As filmagens do funeral, com o reverendo Al Sharpton, adicionam peso emocional, sem cair em manipulação barata.
No entanto, prevalece um senso de hopelessness. Como nota o Roger Ebert, quantos documentários mais serão necessários para denunciar racismo e violência armada? A condenação de Lorincz a 25 anos por homicídio culposo em 2024 traz closure parcial, mas o filme enfatiza que justiça individual não resolve falhas sistêmicas. Essa melancolia permeia a visão, deixando o espectador exausto, mas reflexivo.
Comparação com outros true crimes
Diferente de Making a Murderer, que usa entrevistas para construir mistério, A Vizinha Perfeita é mais visceral, semelhante a Incident de Bill Morrison, que recompõe eventos históricos via footage antigo. Comparado a American Murder: The Gabby Petito Case, compartilha o foco em disputas domésticas escaladas, mas destaca raça de forma mais explícita.
Na Netflix, ecoa The Keepers em sua crítica a instituições falhas, mas é mais conciso e impactante. Enquanto Don’t F**k with Cats constrói suspense via rede social, este usa tecnologia policial para expor desigualdades. No geral, destaca-se por sua brevidade e potência, evitando o inchaço comum em séries true crime.
Pontos fortes e limitações
Os trunfos incluem a autenticidade das imagens, que tornam o filme “indiscutível”, como diz o LA Times. A direção de Gandbhir brilha na edição, transformando horas de footage em 96 minutos tensos. Temas como mediação comunitária – sugerindo assistentes sociais em vez de policiais para disputas triviais – adicionam camadas propositivas.
Limitações existem: o filme não aprofunda a posse de armas ou a Segunda Emenda, focando mais em sintomas que raízes. Alguns acham o termo “Karen” ofensivo, e a ausência de contexto sobre Lorincz deixa lacunas. Ainda assim, essas falhas não diminuem o impacto central.
Vale a pena assistir a A Vizinha Perfeita?
Sim, especialmente para fãs de true crime reflexivo. Com duração curta, é ideal para uma sessão noturna que provoca debate. A Netflix acerta ao lançar em novembro de 2025, alinhando com discussões sobre eleições e direitos. Se você busca entretenimento leve, pode ser pesado; mas para quem quer entender América racializada, é essencial.
O documentário não entretém, mas educa e indigna, forçando confrontos incômodos. Sua relevância em 2025, com tiroteios crescentes, o torna urgente. Assista se preparado para questionar sistemas, não para catarse fácil.
A Vizinha Perfeita é um soco no estômago disfarçado de documentário simples. Geeta Gandbhir usa footage policial para desmascarar medo racista e leis perigosas, criando uma obra sombria, mas vital. Com imagens cruas e temas afiados, ele expõe feridas americanas sem piedade. Apesar de sua melancolia inescapável, o filme urge mudança, provando que true crime pode ser ferramenta de justiça. Na Netflix, é uma adição imperdível para quem valoriza narrativas que doem e inspiram.
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