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Inferno em La Palma e o protagonismo feminino diante do caos

A minissérie espanhola Inferno em La Palma (La Palma, no original), lançada pela Netflix, reconstrói um dos episódios mais marcantes da história recente das Ilhas Canárias: a erupção do vulcão Cumbre Vieja. Em suma, o mesmo destruiu casas, deslocou milhares de pessoas e cobriu parte da ilha com lava. Mas, além do desastre natural, a série chama a atenção por outro elemento poderoso — a forma como retrata a força das mulheres em meio ao caos.

Com base em personagens reais e inspirados em histórias verdadeiras, a produção traz à tona um aspecto muitas vezes invisibilizado em grandes tragédias: o protagonismo feminino. São mães, líderes comunitárias, cientistas e profissionais da saúde que não apenas resistem ao desastre, mas o enfrentam com determinação, inteligência emocional e coragem.

Protagonistas que carregam o peso do mundo

Em Inferno em La Palma, o espectador acompanha mulheres que, mesmo diante do colapso de suas rotinas, mantêm-se firmes para proteger suas famílias, comunidades e até desconhecidos. A figura da mãe, por exemplo, ganha destaque ao representar não só o cuidado afetivo, mas também a responsabilidade prática de garantir segurança em situações extremas.

Essas personagens não são idealizadas como heroínas infalíveis, mas retratadas em sua complexidade: sentem medo, choram, hesitam — e mesmo assim agem. Essa construção contribui para romper com o arquétipo da “mulher forte” como uma figura fria e insensível, mostrando que a vulnerabilidade também é parte da força feminina.

A ciência tem rosto de mulher

Outro ponto alto da minissérie é a presença de mulheres cientistas e técnicas nas equipes que monitoram o vulcão e orientam evacuações. Em um campo historicamente dominado por homens, Inferno em La Palma reconhece e valoriza a contribuição feminina na ciência, especialmente em momentos de emergência.

Essas personagens representam um avanço necessário na forma como a ficção retrata as profissionais da ciência — como vozes confiáveis, racionais e fundamentais para a tomada de decisões que salvam vidas. O recado é claro: mulheres não apenas cuidam, mas também lideram, calculam riscos, orientam e salvam.

Sororidade e resistência: o poder do coletivo

Além das atuações individuais, a série destaca o poder da sororidade. Mulheres que nunca se viram antes unem forças para ajudar umas às outras, dividir abrigos improvisados, compartilhar recursos e conforto emocional. Em meio à devastação, são os laços femininos que criam pequenas ilhas de segurança e humanidade.

A narrativa reforça a importância das redes de apoio entre mulheres — algo que, na vida real, se mostra crucial em desastres e situações de crise. A solidariedade feminina aparece como um motor silencioso da reconstrução, muito além do que os noticiários costumam mostrar.

Um olhar feminista sobre Inferno em La Palma

Ao oferecer espaço para personagens femininas diversas e multifacetadas, Inferno em La Palma cumpre um papel importante: visibilizar o protagonismo das mulheres não apenas em histórias de superação, mas também em decisões técnicas, científicas e políticas durante uma crise. A série propõe uma representação mais justa e realista do lugar que as mulheres ocupam — e muitas vezes são apagadas — em contextos históricos.

Neste sentido, o olhar feminista sobre a obra nos convida a refletir: quantas histórias de resiliência feminina ficam à margem do relato oficial dos desastres? E como a cultura pop pode contribuir para reescrevê-las sob uma nova perspectiva, onde mulheres não apenas sobrevivem — mas transformam?

Inferno em La Palma é, acima de tudo, um tributo à resistência humana. Mas é também uma ode às mulheres que, com força, sensibilidade e inteligência, enfrentam o que parece impossível. Em tempos em que o mundo ainda insiste em subestimar o papel feminino em situações-limite, a série surge como uma poderosa resposta — e uma inspiração.

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