A nova série espanhola da Netflix, Olympo, chega como um drama esportivo repleto de tensão, mistério e corpos esculpidos para a perfeição. Ambientada em um centro de alto rendimento, a trama acompanha jovens atletas dispostas a tudo pela vitória – mas, por trás das cenas de treinos exaustivos e rivalidades ardentes, a série esconde uma crítica afiada sobre os padrões inalcançáveis impostos às mulheres e como o sistema as empurra umas contra as outras.
Sob a superfície de uma narrativa que lembra Élite com cloro, Olympo levanta questões urgentes: até que ponto a busca pela excelência esportiva se transforma em autodestruição? E, principalmente, por que a rivalidade feminina ainda é um tropo tão explorado – e será que a série consegue subvertê-lo?
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A Rivalidade Feminina: Competição ou Construção Patriarcal?
A trama gira em torno de Amaia (Clara Galle), uma nadadora sincronizada obcecada pela perfeição, e sua melhor amiga Nuria (María Romanillos), que de repente a supera em desempenho de forma suspeita. O conflito entre as duas poderia ser apenas mais uma história de inveja e traição, mas Olympo sugere algo mais profundo: a competição feminina não é natural – é fabricada.
Em um ambiente onde apenas uma pode ser a melhor, a série expõe como o sistema esportivo (e, por extensão, a sociedade) beneficia-se da divisão entre mulheres. A pressão por medalhas, patrocínios e reconhecimento as coloca em uma guerra fratricida, enquanto treinadores e instituições permanecem intocáveis. Quantas vezes, na vida real, mulheres são levadas a acreditar que precisam derrubar outras para subir?
O Corpo Feminino: Ferramenta de Trabalho ou Objeto de Controle?
Olympo não poupa esforços para mostrar corpos esculpidos, suor e movimentos impecáveis – mas também não ignora o custo disso. A transformação física de Clara Galle para o papel (que incluiu ganho de massa muscular) é um reflexo da realidade de atletas mulheres, cujos corpos são constantemente vigiados, julgados e modificados em nome do desempenho.
A série questiona: quem dita o que é um “corpo atlético ideal”? E por que, mesmo no esporte, a estética feminina ainda é tão policiada? Enquanto Amaia se cobra por cada falha, a narrativa nos lembra que a busca pela perfeição física muitas vezes mascara uma armadilha de insatisfação eterna – algo que mulheres reconhecem bem, dentro e fora das piscinas.
Identidade e Sexualidade Sob Pressão
Em um mundo onde cada movimento é calculado, há espaço para autenticidade? Olympo explora brevemente questões de orientação sexual e identidade, mas o faz em um ambiente opressor, onde qualquer “desvio” pode ser visto como fraqueza.
A pergunta que fica é: a série consegue ir além do tokenismo? Em meio a tantas histórias de sacrifício, será que as personagens LGBTQIA+ têm direito a existir além de seus dramas esportivos? É uma discussão necessária, especialmente em produções que se vendem como modernas, mas nem sempre aprofundam suas representações.
O Mito da Meritocracia e o Preço do Sucesso
O centro de treinamento de Olympo é um microcosmo do mundo esportivo real: hierárquico, cruel e cheio de segredos sujos. A série não romantiza a ideia de “vencer a qualquer custo” – pelo contrário, mostra como a meritocracia tóxica corrói amizades, ética e até a saúde mental das atletas.
Quando um colega tem um colapso e surgem suspeitas de doping, a trama escancara a cultura do silêncio que protege abusos em nome dos resultados. Quantas atletas reais já foram pressionadas a ignorar lesões, assédio ou irregularidades porque “o show precisa continuar”? Olympo não dá respostas fáceis, mas nos faz questionar quem realmente paga o preço pela glória alheia.
Olympo é Só um Drama ou um Espelho Social?
A série poderia ser apenas mais uma produção sobre jovens bonitos e conflitos exagerados, mas sua força está em escancarar as estruturas que oprimem mulheres no esporte e além. Se em alguns momentos ela ainda recai em clichês (como a sexualização dos corpos ou rivalidades simplistas), em outros oferece uma crítica potente à obsessão pela perfeição.
Olympo nos lembra que, quando mulheres são colocadas em competição constante, o verdadeiro vencedor nunca é nenhuma delas – é o sistema que as controla. E talvez a maior vitória que a série poderia ter não esteja nas medalhas de suas personagens, mas em nos fazer refletir: até quando vamos aceitar essas regras?
E você, já assistiu Olympo? O que achou da representação das mulheres no esporte? Compartilhe nos comentários!