Até a Última Gota, o novo filme de Tyler Perry na Netflix, não é apenas mais um thriller dramático – é um grito de socorro. Protagonizado por Taraji P. Henson, a trama acompanha Janiyah, uma mãe solo negra que, após uma série de revezes, chega ao seu limite. Apesar de ser uma obra ficcional, o longa escancara uma realidade cruel: a invisibilidade e o peso desproporcional que mulheres negras carregam em uma sociedade estruturalmente desigual.
Mas afinal, Até a Última Gota é baseado em uma história real? Não exatamente. No entanto, como bem pontua Perry, ele é inspirado em milhões de vidas reais – especialmente as de mulheres negras que diariamente enfrentam a violência econômica, o racismo e a solidão imposta por um sistema que as ignora.
Assista ao trailer oficial de “Até a Última Gota”:
A Última Gota: Quando o Sistema Empurra Mulheres para o Limite
Janiyah Wilkinson (Taraji P. Henson) é o retrato de uma mulher à beira do colapso. Desempregada, despejada e sem dinheiro para comprar remédios para a filha, ela é forçada a tomar uma decisão extrema: assaltar um banco. A narrativa, embora fictícia, ecoa histórias reais de mães que, encurraladas pela pobreza, recorrem a medidas desesperadas.
Tyler Perry, ao escrever o roteiro, se inspirou na música 20 Dollars, de Angie Stone – um relato lírico sobre uma mulher implorando por ajuda para alimentar seu bebê. Em entrevistas, ele reforça:
“Esta é uma história sobre pessoas que são ignoradas, que não são vistas, não são representadas. E o que acontece quando a pressão se torna insuportável.”
E essa pressão tem gênero e raça. Nos EUA, mulheres negras são as que mais sofrem com a disparidade salarial, a falta de apoio governamental e a criminalização de sua pobreza. No Brasil, não é diferente: segundo o IBGE, mulheres negras são as maiores vítimas do desemprego e da informalidade.
“Ninguém Nos Vê”: A Solidão da Mãe Negra
Uma das falas mais impactantes do filme é: “Ninguém nos vê.” Essa invisibilidade não é um acidente – é projeto.
- Violência Econômica: Mães solo, especialmente negras, são as mais afetadas pela falta de creches públicas, auxílio-moradia e políticas de combate à pobreza.
- Criminalização da Pobreza: Enquanto homens brancos em crises financeiras recebem “segundas chances”, mulheres negras são punidas por seus atos de sobrevivência.
- Falta de Rede de Apoio: Janiyah não tem para onde correr. E essa realidade é compartilhada por milhões que não têm família, amigos ou Estado para ampará-las.
Perry não criou Janiyah do nada. Ele condensou décadas de relatos de mulheres que, sem alternativas, são levadas ao extremo.
O Feminismo Negro no Centro da Narrativa
Até a Última Gota não é apenas um filme sobre uma mulher em crise – é sobre resistência. A personagem de Sherri Shepherd (Nicole, a gerente do banco) e Teyana Taylor (Kay, a policial) representam diferentes facetas da experiência da mulher negra:
- A Mãe Solo em Desespero (Janiyah) – A que o sistema abandonou.
- A Profissional que Precisa se Endurecer (Nicole) – A que precisa se adaptar a um mundo hostil.
- A Mulher que Tenta Mudar o Sistema por Dentro (Kay) – A que acredita na justiça, mas vê suas limitações.
Essa tríade mostra que não há uma única forma de ser uma mulher negra – mas todas compartilham lutas em comum.
Até a Última Gota é Ficção, Mas a Dor é Real
Até a Última Gota não é “baseado em fatos reais” no sentido literal, mas é um espelho de uma realidade que o cinema raramente mostra. Ele nos força a perguntar:
- Quantas Janiyahs existem por aí, invisíveis até explodirem?
- Por que só enxergamos essas mulheres quando chegam ao limite?
- O que estamos fazendo, como sociedade, para evitar que mais mulheres sejam levadas à última gota?
O filme não oferece respostas fáceis, mas cumpre seu papel: fazer o público enxergar quem sempre foi apagado. E, no feminismo, ver é o primeiro passo para mudar.
Você já assistiu a Até a Última Gota? Como a história de Janiyah ressoa com a realidade das mulheres no Brasil? Comente abaixo!