Heleninha Roitman sempre foi mais do que uma simples personagem em Vale Tudo; ela foi um ícone. Em 1988, sua jornada de dor, alcoolismo e superação representou uma abordagem corajosa e profundamente humana sobre a resiliência. Décadas depois, o remake de Manuela Dias se depara com a responsabilidade de honrar esse legado. Contudo, as escolhas narrativas para a reta final indicam um caminho preocupante: a troca da complexa redenção de Heleninha por um suspense policial convencional e, em última análise, menos impactante.
A decisão de transformar a artista torturada na principal suspeita pela morte de sua mãe, Odete Roitman, gera uma tensão imediata, mas a que custo? Esta análise crítica mergulha no que se perde quando uma personagem tão rica é reduzida a uma peça em um jogo de “quem matou?”.
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Em novo final, Heleninha é reduzida a mera peça de mistério
Na trama atual, a jornada de autoconhecimento e luta contra a dependência química de Heleninha é bruscamente desviada para os trilhos de um enredo policial. A partir de 15 de outubro, ela será formalmente acusada e presa pelo assassinato de Odete. A evidência — suas digitais na arma do crime — a coloca no centro de uma investigação que dominará os últimos capítulos.
Assistiremos a uma personagem, já fragilizada pela descoberta da sobrevivência de seu irmão e por uma recaída devastadora, ser submetida a interrogatórios, acareações e ao confinamento de uma cela. Sua dor, antes interna e psicológica, se torna um espetáculo externo, servindo de motor para o suspense. A grande reviravolta prometida para o capítulo final, onde ela reaparece livre, apenas reforça essa superficialidade. Seja qual for a solução — uma inocência de última hora, a ressurreição da vilã ou um limbo jurídico —, o dano à profundidade da personagem já está feito. Ela deixa de ser a protagonista de sua própria recuperação para se tornar um objeto no mistério da morte de sua mãe.
A Heleninha de 1988: Uma Lição de Empatia e Esperança
É impossível analisar a escolha atual sem revisitar a genialidade do final original. Em 1988, os autores Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères fugiram do clichê. Em vez de punir Heleninha por sua “fraqueza”, eles a celebraram por sua força. O desfecho foi um tratado sobre empatia.
Livre da culpa pela morte do irmão — uma mentira cruel de Odete —, a Heleninha de Renata Sorrah encontrou um caminho de reconstrução. Ela não foi presa; ela se libertou. O clímax de sua história não foi um veredito judicial, mas sim a conquista de sua sobriedade, simbolizada pela ficha de um ano no Alcoólicos Anônimos. Seu triunfo foi consolidado com uma exposição de arte, a retomada de sua identidade como pintora, não como vítima. O final de 1988 não entregou apenas um “quem matou?”, mas uma mensagem poderosa de que a vida, apesar das feridas, pode ser reconstruída. Foi uma escolha narrativa que respeitou a complexidade do alcoolismo e a dignidade da personagem.
Os 5 Erros de Manuela Dias no Novo Final de Heleninha
A decisão de transformar a jornada de Heleninha em um suspense policial pode ser vista não apenas como uma mudança, mas como uma série de equívocos narrativos que comprometem a força da personagem. Abaixo, listamos os principais erros dessa abordagem:
1. O Abandono da Redenção como Tema Central: O maior erro é a substituição do tema principal. A história de Heleninha nunca foi sobre um crime, mas sobre a luta de uma mulher contra seus demônios internos: o alcoolismo, a culpa e a opressão materna. Ao colocar um assassinato como seu clímax, a novela descarta essa jornada de redenção e a troca por uma trama externa, tratando sua complexa batalha psicológica como um mero prelúdio para o verdadeiro “evento principal”.
2. A Perda de Agência da Personagem: Na versão de 1988, Heleninha era a protagonista de sua própria salvação. A decisão de buscar sobriedade, de retomar a arte e de se reconstruir partiu dela. No novo final, ela se torna passiva. Seu destino não está mais em suas mãos, mas nas de um delegado, de um laudo pericial e da revelação de um verdadeiro culpado. Ela deixa de ser uma agente de mudança em sua vida para se tornar uma vítima das circunstâncias, aguardando que outros a salvem.
3. O Recurso ao Suspense Genérico em Vez da Originalidade: O mistério de “quem matou?” é, talvez, o recurso mais batido da teledramaturgia. Embora eficaz para prender a atenção, é uma fórmula. A originalidade do arco de Heleninha residia justamente em fugir dessas fórmulas, focando em um drama humano realista e comovente. A nova versão opta pelo caminho mais seguro e previsível, sacrificando a singularidade da personagem em prol de um clichê de fim de novela.
4. A Instrumentalização do Trauma e do Alcoolismo: Na nova trama, o alcoolismo e o trauma de Heleninha perdem sua profundidade e se tornam meros artifícios de roteiro. Sua recaída e seu surto não são explorados como parte de sua luta, mas como conveniências para justificar sua presença na cena do crime e torná-la uma suspeita crível. Em vez de tratar a dependência química com a seriedade que o tema merece, a novela a utiliza como uma ferramenta para fazer o enredo policial andar.
5. O Descarte da Mensagem de Esperança do Original: Por fim, o erro mais grave é o descarte do legado humanista da obra de 1988. O final original de Heleninha era uma declaração poderosa de que a recuperação é possível e de que pessoas complexas merecem finais dignos, focados na cura e não na punição. Ao arrastá-la para o centro de um crime sórdido, o remake flerta com uma visão mais cínica e melodramática, arriscando-se a perder a mensagem de esperança que fez de Heleninha um ícone atemporal.
A questão que fica é inevitável: será que, em busca de um clímax bombástico para as redes sociais, a nova versão está disposta a sacrificar a alma de uma de suas figuras mais emblemáticas? Ao que tudo indica, a resposta é sim. Heleninha Roitman, o ícone da resiliência, corre o risco de terminar como apenas mais um nome em uma lista de suspeitos, uma conclusão que trai a força e a importância de sua história original.
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