Limpa (2025), dirigido por Dominga Sotomayor Castillo, estreia na Netflix em 10 de outubro como um drama chileno sutil e incômodo. Com 1h42min, o filme adapta o romance de Alia Trabucco Zerán, explorando desigualdades de classe por meio da rotina de uma empregada doméstica. Estrelado por Maria Paz Grandjean, Rosa Puga Vittini e Ignacia Baeza, ele mistura elementos policiais e emocionais. Abaixo, analiso aqui o que torna essa produção relevante, mas também limitada, para ajudar você a decidir se vale o play.
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Premissa que expõe abismos sociais
Estela (Maria Paz Grandjean), jovem do interior chileno, chega a Santiago para trabalhar como empregada em uma casa de classe alta. Ela cuida de tudo: limpeza, refeições e, principalmente, da criança Julia (Rosa Puga Vittini), de 10 anos, negligenciada pelos pais ausentes. O filme foca na dependência mútua entre as duas, em um ambiente de silêncios opressivos e microagressões diárias.
Baseado no livro de Trabucco Zerán, Limpa evita tramas explosivas. Em vez disso, constrói tensão através de rotinas mundanas, como o cão da família que une Estela e Julia em dias vazios. A diretora usa esses momentos para destacar o desprezo sutil da elite, onde a empregada é indispensável, mas invisível. O tom policial surge no clímax, com viradas que questionam lealdades, mas sem exageros melodramáticos.
Elenco jovem e atuações contidas
Maria Paz Grandjean convence como Estela, transmitindo fadiga e anseio com olhares econômicos. Sua personagem é uma figura estoica, dividida entre o dever e o desejo por uma vida própria – uma escolha que ressoa com o público latino-americano. Rosa Puga Vittini, como Julia, rouba cenas com uma mistura de inocência e manipulação infantil, capturando a solidão de uma criança rica, mas abandonada.
Ignacia Baeza e os atores dos pais, como Rodrigo Palacios, representam a frieza da burguesia com naturalidade. O elenco, majoritariamente iniciante, beneficia-se da direção de atrizes de Sotomayor, que prioriza autenticidade sobre explosões. No entanto, a falta de profundidade em alguns coadjuvantes, como os patrões, deixa certas dinâmicas superficiais, limitando o impacto emocional.
Direção elegante com ritmo lento
Dominga Sotomayor Castillo, conhecida por De Quinta a Domingo (2012) e Tarde para Morrer Jovem (2018), mantém seu estilo languido e observacional. A fotografia de Inti Briones capta a opulência fria da casa santiaguina, com planos longos que enfatizam o vazio emocional. A trilha sonora minimalista, com canções populares chilenas, reforça o tom cotidiano, transformando o banal em opressivo.
O roteiro, coescrito com Gabriela Larralde, acumula situações em vez de um arco dramático linear. Isso cria uma imersão realista, mas o ritmo pausado pode testar a paciência de espectadores acostumados a narrativas ágeis. O clímax, com elementos policiais, ganha intensidade radical, mas uma das viradas parece forçada, ecoando críticas de que o filme vai longe demais para chocar.
Temas de classe e dependência mútua
Limpa brilha ao dissecar as injustiças sistêmicas do trabalho doméstico na América Latina. Estela sacrifica sua família para sustentar a de outros, enquanto Julia, carente de afeto parental, se apega à babá como mãe substituta. Essa inversão de papéis critica o patriarcado e o classismo, mostrando como os ricos exploram a vulnerabilidade dos pobres sem remorso.
A adaptação do romance mantém a essência literária, com foco na psicologia das personagens. Sotomayor incorpora toques autobiográficos, como o papel das crianças em suas obras anteriores, para explorar solidão e identidade. No contexto chileno pós-ditadura, o filme ecoa debates sobre mobilidade social, tornando-o atual em 2025. Ainda assim, a sutileza às vezes roça o didático, sem inovar o gênero.
Pontos fortes e limitações
Os trunfos incluem a direção de atrizes precisa e a fotografia poética, que elevam o drama a uma meditação visual sobre isolamento. O filme questiona sonhos adiados – Estela sonha com amor e férias, mas a realidade a sufoca –, gerando empatia genuína. Sua duração enxuta facilita uma visão fluida, ideal para noites reflexivas.
Limitações surgem no subdesenvolvimento de Estela: quem era ela antes de Santiago? O filme sugere, mas não aprofunda, deixando-a como símbolo mais que indivíduo. O final radical, com uma virada extrema, divide opiniões – lógica para alguns, excessiva para outros. Orçamento Netflix garante polimento, mas dilui a urgência social.
Vale a pena assistir a Limpa?
Limpa é uma opção sólida para quem aprecia dramas contemplativos sobre desigualdades. Sua sutileza cativa fãs de cinema autoral latino, oferecendo insights profundos sem sensacionalismo. Com atuações marcantes e direção elegante, ele provoca debates sobre trabalho doméstico e afeto negado. No entanto, o ritmo lento e o clímax controverso podem frustrar quem busca ação policial intensa.
Em 2025, com o catálogo Netflix saturado, Limpa se destaca pela autenticidade chilena e relevância temática. Assista se curte Roma ou obras de Sotomayor – é reflexivo e tocante. Para tramas mais dinâmicas, opte por thrillers como O Segredo da Minha Mãe. Uma sessão de 1h42min que fica na mente, mas não revoluciona.
Limpa consolida Dominga Sotomayor como voz única no cinema chileno, com um retrato contido de poder e dependência. Maria Paz Grandjean e Rosa Puga Vittini brilham em papéis que expõem abismos de classe, enquanto a direção languida transforma o cotidiano em crítica afiada. Apesar de um final que arrisca demais e um ritmo que pede paciência, o filme é uma adição valiosa à Netflix, convidando à empatia por invisíveis sociais. Vale para quem busca cinema que sussurra verdades incômodas.
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