O que são as Estátuas de Três Graças? Entenda o Mistério por Trás dessa Obra de Arte

A novela Três Graças, que estreou em 20 de outubro de 2025 na faixa das 21h da Globo, já desperta curiosidade com seu enredo de crimes, família e redenção em uma São Paulo periférica. Escrita por Aguinaldo Silva e dirigida por Luiz Henrique Rios, a trama une as protagonistas Lígia (Dira Paes), Gerluce (Sophie Charlotte) e Joélly (Alana Cabral) em uma luta contra injustiças. Mas o que realmente intriga é a estátua das Três Graças, guardada por Arminda (Grazi Massafera) em um quarto trancado. Essa peça não é mero adorno: esconde pilhas de dinheiro sujo dos negócios ilícitos de seu amante, Santiago Ferette (Murilo Benício). Nesta crítica, mergulhamos no mistério, no simbolismo mitológico e na execução narrativa, avaliando como a novela usa arte clássica para impulsionar drama moderno.

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O Enigma que Desperta Suspeitas na Mansão

Na primeira semana de exibição, a estátua surge como pivô de tensão. Gerluce, a motorista determinada e rebelde, invade o quarto proibido e fica hipnotizada pela escultura de três mulheres entrelaçadas. Arminda, a vilã ambiciosa, explode em pânico ao flagrá-la. “Não toque nisso!”, grita, revelando camadas de paranoia. Logo depois, Josefa (Arlete Salles), mãe de Arminda, solta pistas: a peça é “valiosa demais” e carrega um passado sombrio, ligado à morte misteriosa do marido da vilã.

O segredo? Dentro da base oca, Ferrette esconde R$ 20 milhões em cédulas, frutos de esquemas com medicamentos falsos e tráfico. Essa revelação, em capítulos iniciais, conecta o crime organizado ao drama familiar. A estátua não é só cofre: simboliza a fachada de elegância que Arminda usa para mascarar corrupção.

Aguinaldo Silva, mestre em tramas de poder, usa o artefato para criticar a hipocrisia da elite periférica. Mas a execução inicial peca por pressa: o desespero de Grazi soa histriônico, e o quarto trancado evoca clichês de novelas antigas como Senhora do Destino. Ainda assim, o mistério engaja, prometendo reviravoltas que ligam as “graças” da novela – Lígia, Gerluce e Joélly – ao tesouro escondido.

As Deidades que Inspiraram a Trama

As Três Graças, ou Cárites na mitologia grega, são filhas de Zeus e Eurínome (ou Hera, em algumas versões). Aglaia representa o brilho e a elegância; Eufrosina, a alegria e o prazer; Thalia, o florescimento, a juventude e a abundância. Companheiras de Afrodite e Apolo, elas personificam a harmonia em banquetes divinos, dançando nuas para celebrar a beleza efêmera. Séneca, no século I d.C., via nelas as três faces da liberalidade: dar, receber e retribuir.

Na novela, essa tríade ecoa nas protagonistas: Lígia, a mãe resiliente; Gerluce, a jovem combativa; Joélly, a criança inocente que floresce em meio ao caos. O paralelo enriquece o subtexto feminista de Silva, que critica a opressão patriarcal em comunidades marginalizadas. No entanto, a crítica surge: por que limitar as Graças a um cofre criminal? A mitologia oferece camadas de empoderamento – elas inspiram musas e fertilidade –, mas aqui, o foco no dinheiro dilui o potencial poético. É uma oportunidade perdida para explorar a “alegria” de Eufrosina em cenas de sororidade, em vez de só tensão.

Esculturas Eternas: Canova e Pradier no Centro do Debate

estatua tres gracas

A estátua fictícia homenageia obras reais que imortalizam as deusas. Antonio Canova, neoclássico italiano, esculpiu sua versão entre 1812 e 1817, encomendada por Joséphine de Beauharnais, primeira esposa de Napoleão. A estátua, em mármore Carrara, mostra as Graças de costas, braços entrelaçados em pose graciosa, contrastando com a opulência barroca. Após a morte de Joséphine em 1814, Canova concluiu-a para o imperador, que a doou ao Museu Hermitage, em São Petersburgo. Uma réplica idêntica, de 1815-1817, reside no Victoria and Albert Museum, em Londres, celebrada por sua delicadeza etérea.

Já James Pradier, escultor francês romântico, criou sua peça em 1842, no Louvre. Mais sensual, com as deusas frontais e véus transparentes, ela chocou pela ousadia erótica, inovando o cânone acadêmico. Ambas as obras, de cerca de 1,40m a 1,50m, capturam o ideal renascentista de beleza feminina: simetria, nudez idealizada e movimento congelado.

Na novela, a réplica em resina captura essa essência, mas com toques modernos: veios de mármore sintético e iluminação dramática. Crítica aqui: a produção Globo acerta na fidelidade visual, mas ignora o contexto histórico. Canova esculpia em era napoleônica, ecoando poder imperial; Pradier, na Revolução de 1848, insinuava liberdade. Três Graças poderia usar isso para aprofundar o crime de Santiago como “império” periférico, mas opta por superficialidade, priorizando suspense sobre reflexão.

Um Despertar Visual na Abertura da Novela

A estátua ganha vida na vinheta de abertura, um tour de force visual dirigido por Rios. Partindo de um bloco de mármore rígido, rachaduras liberam flores, luzes e dançarinas – as três protagonistas emergem como as deusas, em um ciclo de dança que evoca transformação. A câmera gira em 360 graus, com trilha de piano e percussão brasileira, misturando mitos gregos a ritmos de samba periférico.

Esse simbolismo reforça o tema central: da dureza social (pedra como pobreza e violência) ao florescimento feminino (graças como resiliência). Joélly, Gerluce e Lígia posam entrelaçadas, nuas em silhuetas etéreas, celebrando fertilidade e encanto. É um acerto estético: a vinheta, com 45 segundos, viralizou nas redes, acumulando 2 milhões de views no Gshow em 48 horas.

Contudo, a crítica aponta inconsistência. O “despertar” da estátua sugere empoderamento, mas na trama, ela permanece prisão para segredos sujos. Essa dicotomia – beleza externa versus podridão interna – é poética, mas subdesenvolvida. Comparada a aberturas como a de Avenida Brasil, que usava favelas para metaforizar ascensão, Três Graças fica aquém em ousadia política.

Forças Narrativas e Pontos Fracos na Execução

Três Graças brilha nas atuações. Sophie Charlotte, como Gerluce, entrega uma protagonista crível: sua descoberta da estátua mistura fascínio e astúcia, elevando o mistério a catarse social. Grazi Massafera, vilã calculista, usa o pavor com a peça para humanizar Arminda – uma mãe tóxica moldada por traumas. Arlete Salles, como Josefa, rouba cenas com revelações sussurradas, ligando o artefato a heranças familiares.

O elenco de apoio, com Murilo Benício como o mafioso charmoso e Romulo Estrela em papéis de apoio, sustenta o ritmo. A direção de arte, com a mansão decadente contrastando a estátua imaculada, imerge o espectador em um São Paulo híbrido: periférico, mas com toques de sofisticação europeia.

Fraquezas? A trama criminal avança rápido demais, diluindo o simbolismo. O dinheiro escondido vira macguffin genérico, ecoando O Clone sem inovação. Silva, aos 80 anos, repete fórmulas de vilãs ambiciosas, mas falha em inovar o feminismo: as Graças são mais vítimas que agentes. Audiência inicial de 25 pontos no Ibope reflete engajamento, mas críticas no Twitter apontam para “previsibilidade”. Nota: 7/10 – promissora, mas precisa de camadas.

Um Final Aberto para as Deusas Modernas

O mistério da estátua em Três Graças encapsula o potencial da novela: unir eterno e efêmero. Como as deusas de Canova, que dançam em mármore frio, as personagens buscam graça em meio ao caos. Silva entrega suspense sólido, mas poderia ousar mais no subtexto mitológico. Para fãs de dramas sociais, vale o mergulho – especialmente pela vinheta hipnótica. A estátua não é só esconderijo: é espelho da alma feminina, rachada mas florescendo. Assista e decida: arte ou armadilha?

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Magdalena Schneider
Magdalena Schneider
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