O cinema brasileiro de comédia sempre teve um lugar especial para personagens populares da TV. Lucicreide Vai pra Marte, lançado em 2021, traz de volta a icônica empregada Lucicreide, vivida por Fabiana Karla. Dirigido por Rodrigo César, o filme mistura humor nordestino com ficção científica de forma ousada. Produzido por Downtown Filmes, Paris Filmes e Globo Filmes, ele estreou nos cinemas em março de 2021, durante a pandemia, e logo migrou para plataformas de streaming. Com uma trama que leva a protagonista para a NASA, a produção promete risadas e reflexão sobre sonhos impossíveis. Mas será que cumpre? Nesta análise, destaco os acertos e tropeços para ajudar você a decidir se vale a pena assistir.
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Premissa inusitada e humor regional
A história começa na casa de Lucicreide, em um bairro pobre do Rio de Janeiro. Sua vida vira caos com a chegada da sogra, despejada e teimosa. O marido, Dermirrei, a abandona, deixando-a sozinha com cinco filhos. Desesperada por uma saída, ela vê na TV um anúncio da NASA: um programa para civis treinarem como astronautas para Marte. Lucicreide se inscreve, motivada pelo sonho de uma vida melhor. O que se segue é uma jornada de testes absurdos, onde ela usa sua esperteza de rua para superar cientistas e burocratas.
Essa premissa é o grande trunfo do filme. Ela funde o realismo cru da periferia brasileira com o glamour da exploração espacial. Referências a Interestelar e Marte de Andy Weir aparecem de forma leve, sem forçar a barra. O humor surge das diferenças culturais: Lucicreide, com seu sotaque nordestino carregado, choca os americanos certinhos. Cenas como ela cozinhando feijão na cabine de simulação geram gargalhadas genuínas. No entanto, o ritmo vacila no meio. O treinamento se arrasta, repetindo piadas sobre mal-entendidos linguísticos. Isso dilui o impacto inicial, tornando partes previsíveis.
Fabiana Karla no centro das atenções
Fabiana Karla revive Lucicreide com maestria. A personagem, nascida no humor de Zorra Total, ganha camadas aqui. Não é só a empregada engraçada; é uma mãe guerreira, cheia de sonhos adiados. Karla domina as cenas com timing perfeito, misturando comédia física e emoção. Seu sotaque, criticado por alguns como forçado, na verdade reforça a identidade cultural. Ela representa o nordestino resiliente, que ri das adversidades.
O elenco de apoio ajuda a equilibrar. Adriana Birolli interpreta Luana, uma rival no programa da NASA, com ironia afiada. Lucy Ramos surge como a sogra, roubando cenas com seu exagero cômico. Leandro da Matta, como Dermirrei, adiciona o toque de canalha carismático. Rodrigo César, que também atua como repórter americano, injeta leveza. Mas nem todos brilham igual. Os atores mirins, que interpretam os filhos de Lucicreide, parecem desconfortáveis em diálogos longos. A química familiar convence, mas poderia ser mais explorada para aprofundar o drama.
Direção e produção com toques criativos
Rodrigo César, em sua estreia em longas, opta por uma direção simples e direta. Ele filma em locações reais no Rio e usa CGI modesto para as cenas espaciais. A parceria com a NASA, real e invejável, adiciona credibilidade. Treinamentos foram gravados em Houston, o que eleva a produção além do padrão nacional. A fotografia de Julia Equi capta o contraste entre a favela vibrante e os laboratórios estéreis, criando um visual dinâmico.
A trilha sonora, de Carlinhos Borges, mistura forró com sons eletrônicos, ecoando a fusão cultural da trama. Efeitos sonoros exagerados, como explosões cômicas, reforçam o tom leve. No entanto, problemas técnicos surgem. O áudio, com sotaques misturados, por vezes soa confuso, exigindo legendas. A edição de Walter Klecius P.H. Farias é ágil, mas corta transições abruptas, o que afeta o fluxo. Orçamento baixo limita as cenas de ação, mas a criatividade compensa com humor verbal.
Crítica social disfarçada de comédia
Por trás das risadas, o filme aborda temas sérios. Lucicreide encarna a luta da mulher periférica: sobrecarregada, invisível, mas cheia de garra. O abandono familiar e a pobreza nordestina ganham destaque, sem cair no vitimismo. A ida à NASA simboliza o sonho americano adaptado ao brasileiro – acessível só para quem ousa. Críticas apontam para o machismo e a desigualdade de classe, como na cena em que Lucicreide questiona os cientistas sobre “por que só homem vai pro espaço?”.
Comparado a comédias como Minha Mãe é uma Peça, Lucicreide Vai pra Marte é menos escrachado, mais aspiracional. Diferente de O Auto da Compadecida, que usa o Nordeste com maestria, aqui o regionalismo serve ao humor, mas evita estereótipos ofensivos. Ainda assim, alguns espectadores reclamam de piadas repetitivas sobre sotaque e pobreza. O filme poderia aprofundar o empoderamento feminino, mas opta pela leveza, o que agrada o público-alvo.
Recepção e impacto cultural
Lançado em tempos de isolamento, o filme foi bem recebido nas bilheterias iniciais. No AdoroCinema, espectadores elogiam o entretenimento puro, com nota média de 3,5 estrelas. Críticos dividem opiniões: o Canaltech destaca risos e lágrimas, chamando de “entretenimento sincero”. No IMDb, a nota é 5,2, refletindo o gosto polarizado.
O impacto vai além. Fabiana Karla ganhou visibilidade internacional com as cenas na NASA. A produção celebra a representatividade pernambucana, com atores locais e referências culturais. Em 2025, com o streaming, o filme ganha nova vida na Netflix, atraindo gerações jovens. Ele inspira debates sobre comédia brasileira: deve ser leve ou provocativa? Para mim, acerta no equilíbrio, mas peca na profundidade.
Vale a pena assistir Lucicreide Vai pra Marte?
Sim, se você busca uma comédia descompromissada. Fabiana Karla carrega o filme sozinha, e as cenas na NASA são hilárias. É perfeito para famílias, com mensagens de superação. Assista se gosta de humor regional ou precisa de algo leve pós-pandemia. Evite se prefere tramas complexas ou sátira afiada – aqui, o foco é na diversão simples.
O filme dura 90 minutos, ideal para uma sessão rápida. No streaming, é acessível e gratuito para assinantes. Nota final: 7/10. Recomendo para fãs de Karla e quem sonha alto, como Lucicreide.
Lucicreide Vai pra Marte é uma comédia brasileira charmosa, que leva o humor da TV para o cinema com ousadia. Fabiana Karla brilha, e a mistura de favela com espaço sideral diverte. Apesar de falhas no ritmo e áudio, ele captura o espírito resiliente do povo brasileiro. Em um ano de produções globais, esse filme local renova a fé no cinema nacional. Assista, ria e reflita: às vezes, o Marte está mais perto do que parece. Se você curte comédias leves com coração, não perca.
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