Crítica de Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime | Vale A Pena Assistir a Série?

Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime, documentário brasileiro de 2021 dirigido por Eliza Capai, revive um dos casos criminais mais chocantes do país. Lançado na Netflix, o especial de quatro episódios mergulha no assassinato e esquartejamento de Luis Marcos Kitano Matsunaga por sua esposa, Elize, em 2012. Com a primeira entrevista exclusiva de Elize após a prisão, a série mistura depoimentos, reconstruções e arquivos jornalísticos. Em 2025, com o revival de interesse via Tremembé, ela ganha nova relevância. Mas humaniza demais a criminosa? Nesta análise, dissecamos a produção para ver se merece replay.

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Premissa e Contexto do Caso

O crime ocorreu em São Paulo. Elize, manicure paranaense de origem humilde, casou-se com Marcos, herdeiro japonês-brasileiro de uma fortuna familiar. A união, inicialmente idílica, desmoronou em abusos, infidelidades e brigas violentas. Em maio de 2012, Elize atirou no marido durante uma discussão e desmembrou o corpo, espalhando partes em sacos de lixo. Presa dias depois, foi condenada a 31 anos por homicídio qualificado.

A série, criada por Capai, usa estrutura não linear. Começa com o crime e retrocede para a infância de Elize, o encontro com Marcos e o declínio do casamento. Cada episódio foca em um aspecto: ascensão social, traições e o julgamento. Essa abordagem, inspirada em true crime como Making a Murderer, constrói tensão gradual. No entanto, o foco inicial em Elize cria viés, priorizando sua narrativa sobre a vítima.

A Entrevista Exclusiva de Elize

O trunfo é a entrevista de Elize, filmada na Penitenciária Feminina de Tremembé. Aos 37 anos, ela aparece serena, maquiada e falante. Relata o relacionamento como conto de fadas virado pesadelo: Marcos a isolou, controlou financeiramente e traiu com várias mulheres. Detalha o tiro como “defesa própria” após agressões. Chora ao falar da filha, hoje com a família de Marcos.

Capai extrai confissões cruas. Elize admite o esquartejamento como “pânico”, mas nega planejamento. A câmera capta microexpressões: hesitações que sugerem omissões. Críticos da Omelete elogiam como humanização necessária, mostrando Elize não como monstro, mas vítima de machismo e desigualdade de classe. Ainda assim, a ausência de confronto direto com evidências enfraquece a credibilidade.

Abordagem Jornalística e Produção

Eliza Capai, de O Silêncio dos Inocentes, adota tom investigativo equilibrado. Entrevistas com advogados de defesa e acusação, familiares de Marcos e jornalistas da época oferecem contraponto. Reconstruções dramatizadas, com atores, recriam cenas sem sensacionalismo excessivo. A trilha sonora minimalista e a fotografia sombria – tons frios em Tremembé contrastam com o luxo paulistano – amplificam o drama.

A produção destaca falhas no sistema judiciário brasileiro. Questiona o julgamento rápido, sem perícia completa no corpo, e o impacto da mídia sensacionalista. Episódios finais exploram o feminicídio velado: estatísticas mostram 1.300 mulheres mortas por parceiros em 2012. No entanto, a edição omite detalhes incômodos, como o testamento alterado por Elize, o que alguns veem como parcialidade.

Pontos Fortes e Limitações

Entre os acertos, a série ilumina dinâmicas abusivas. Elize descreve manipulações sutis: Marcos a convenceu a abandonar a carreira, isolou de amigos e usou ciúmes como arma. Isso ressoa com vítimas reais, fomentando debates sobre Lei Maria da Penha. O arco da filha, criada pelos avós de Marcos, adiciona camada emocional, mostrando sequelas geracionais.

Limitações surgem na superficialidade. O episódio sobre a família Matsunaga é raso: herdeiros japoneses aparecem como elitistas distantes, sem vozes próprias além de trechos de áudio. A narrativa romantiza Elize como “Cinderela trágica”, ignorando sua cumplicidade em fraudes financeiras. Usuários no AdoroCinema dividem-se: 4,2/5 estrelas, com elogios à empatia e críticas à “vitimizações excessiva”. Em 2025, com Tremembé expondo prisões de mulheres, a série parece datada, mas profética.

Impacto Cultural e Relevância Atual

Lançada em junho de 2021, a produção viralizou, topando charts da Netflix no Brasil. Gerou podcasts, artigos na Veja e discussões no Reddit sobre true crime ético. Capai defendeu a humanização: “Crimes não nascem do nada; exploramos raízes sociais”. Em 2025, com o filme Tremembé revivendo o caso via Yasmin Brunet como Elize, a série ganha frescor. Comparada a The Tinder Swindler, destaca-se por foco local: machismo brasileiro, herança japonesa e ascensório social.

Críticos como Lucy Mangan, em resenhas internacionais, notam o apelo global: “Um thriller de salão que questiona narrativas de gênero”. No IMDb, 6,9/10 reflete aprovação moderada. Ela impulsiona conversas sobre justiça restaurativa, mas falha em condenar o ato sem ambiguidade.

Vale A Pena Assistir?

  • Nota: 3,5/5. Uma janela perturbadora para o submundo das aparências.

Sim, para fãs de true crime reflexivo. Os 3h20 de duração voam em ganchos narrativos, e a entrevista de Elize hipnotiza. Ideal para quem busca além do gore: análise de poder, gênero e mídia. Evite se preferir narrativas imparciais; o viés pró-Elize irrita puristas. Em 2025, assista antes de Tremembé para contexto completo.

Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime transcende o sensacionalismo, tecendo um tapete de abusos e ambições. Capai equilibra empatia e fatos, mas peca na profundidade familiar. Essencial para entender crimes como sintomas sociais, ela permanece relevante em tempos de #MeToo brasileiro. Uma série que provoca, incomoda e educa – imperdível para mentes curiosas.

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Magdalena Schneider
Magdalena Schneider
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