Crítica de A Mulher da Fila: Vale a pena assistir ao filme?

A Mulher da Fila, lançado em 4 de setembro de 2025 na Netflix, é um drama argentino que mergulha no universo das prisões. Dirigido por Benjamín Ávila, com roteiro dele e de Marcelo Müller, o filme inspira-se na história real de Andrea Casamento, fundadora da Associação Civil de Familiares de Detentos (ACIFAD). Natalia Oreiro interpreta a protagonista, uma mãe de classe média que enfrenta o caos após a prisão de seu filho. Com 1h45min de duração, a produção mistura empatia social e tensão investigativa. Em um ano de dramas impactantes, como Society of the Snow, será que este filme se destaca? Analisamos a trama, atuações e forças para decidir se vale o play.

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Uma jornada de despertar social

Andrea (Natalia Oreiro) acorda em sua rotina confortável em Buenos Aires. Viúva e dedicada ao trabalho, ela ignora o mundo além de sua bolha de classe média. Tudo muda com a invasão policial: seu filho Gustavo (Federico Heinrich), de 18 anos, é preso por um crime menor que ela jura ser erro. Desesperada, Andrea corre para o advogado, a delegacia e, enfim, a fila interminável da prisão.

O filme demora a revelar a acusação, priorizando o choque inicial. Andrea insiste na inocência do filho, cortando filas e exigindo privilégios. Logo, percebe-se igual às outras mulheres: revistadas, carregando pacotes de comida e roupas, esperando horas sob o sol. Esse “despertar” é o cerne da narrativa, mostrando o contraste entre o pânico de uma novata e a resiliência das veteranas.

Inspirado em eventos reais, o roteiro insere uma investigação sutil. Andrea questiona a culpa de Gustavo ao interagir com detentos e familiares. O foco humanístico evoca os irmãos Dardenne, com retratos crus de um sistema opressivo. No entanto, a trama ocasionalmente patina em conveniências, como diálogos expositivos que explicam dinâmicas prisionais.

Atuações que ancoram a emoção

Natalia Oreiro brilha como Andrea, transitando de arrogância privilegiada para humildade genuína. Sua performance é o coração do filme, capturando o luto e a fúria de uma mãe que descobre camadas de si mesma. Oreiro, conhecida por El Reino, usa olhares e silêncios para transmitir o colapso interno, especialmente nas cenas da fila, onde o suor e a exaustão são palpáveis.

Amparo Noguera, como “La 22”, uma prisioneira experiente, rouba cenas com sua sabedoria áspera. A química entre as duas mulheres evolui de suspeita para sororidade, criando momentos tocantes. Alberto Ammann, no papel de Alejo, um ladrão que ajuda o filho na prisão, adiciona complexidade. Seu arco de apoio mútuo com Andrea é sensível, embora o subtexto romântico soe forçado.

Federico Heinrich, como Gustavo, tem presença marcante, mas seu tempo de tela é limitado. O elenco secundário, incluindo mães de detentos, traz autenticidade, refletindo vozes reais de famílias marginalizadas. As atuações elevam o material, transformando um drama potencialmente didático em algo visceral.

Direção sensível com tropeços narrativos

Benjamín Ávila, de Infância Clandestina, filma com realismo contido. A câmera handheld captura a claustrofobia da prisão e a monotonia da fila, usando closes para enfatizar expressões exaustas. A fotografia de Guillermo Nieto destaca o cinza institucional contra o azul do céu argentino, simbolizando esperança frágil.

O ritmo é deliberado, priorizando observação sobre ação. Cenas de revistadas e entregas de pacotes são longas, mas imersivas, humanizando o invisível. Ávila acerta ao focar na empatia: Andrea aprende com La 22 a navegar o sistema, formando laços que transcendem classes. Esses momentos ressoam, ecoando críticas sociais sem pregação.

Contudo, desvios para thriller enfraquecem o todo. Andrea vira detetive amadora, negociando com criminosos em riscos improváveis. O subtrama romântico com Alejo, que começa como solidariedade, vira clichê novelesco. Esses elementos híbridos diluem o momentum emocional, atrasando a resolução. Ávila recupera força no clímax, mas o filme poderia ser mais coeso sem esses excessos.

Paralelos com o cinema humanista

A Mulher da Fila dialoga com obras como Rosetta, dos Dardenne, em seu retrato de marginalizados. Diferente de séries sensacionalistas como El Marginal, evita violência gráfica, optando por tensão psicológica. Comparado a Roma de Cuarón, compartilha o foco em mulheres comuns, mas foca no sistema prisional argentino, inspirado na ACIFAD de Casamento.

No contexto latino-americano, ecoa La Quién ou El Clan, explorando privilégio e culpa. O filme critica o negacionismo de classes médias, mostrando prisões como territórios “desconhecidos e temidos”. Sua ingenuidade, como notado em resenhas do Letterboxd, é um trunfo: acessível, convida reflexão sem alienar. No Rotten Tomatoes, elogios destacam a perseverança materna, com nota 7.5 no IMDb de 100 avaliações.

Vale a pena assistir?

A Mulher da Fila é uma experiência comovente para quem busca dramas sociais. Natalia Oreiro entrega uma atuação premiável, e as cenas de sororidade na fila são inesquecíveis. Com 1h45min, é ágil o suficiente para uma sessão noturna na Netflix. O despertar de Andrea ressoa em 2025, ano de debates sobre justiça restaurativa.

No entanto, os desvios thriller e românticos frustrarão quem espera foco absoluto. Se você ama humanismo como em Capernaum, vale cada minuto. Para fãs de ação prisional, pode parecer lento. No catálogo da Netflix, é uma joia subestimada, perfeita para discussões sobre empatia e sistema.

A Mulher da Fila ilumina o invisível com sensibilidade. Benjamín Ávila constrói um retrato honesto de luto e conexão, ancorado por Oreiro. Apesar de tropeços em subtramas, o cerne emocional – o choque de mundos na fila eterna – toca fundo. É um lembrete de que o “outro lado” está mais perto do que imaginamos. Recomendado para corações abertos, este drama argentino merece destaque na Netflix.

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Magdalena Schneider
Magdalena Schneider
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