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Crítica de Uma Mulher Sem Filtro: Vale a pena assistir ao filme?

Uma Mulher Sem Filtro, dirigido por Arthur Fontes e roteirizado por Tati Bernardi, estreou nos cinemas em 21 de agosto de 2025 e já está disponível na Netflix. Essa comédia dramática brasileira, adaptação do chileno Sin Filtro (2016), segue Bia, uma publicitária exausta que, após um ritual místico, perde seus filtros sociais e começa a falar tudo o que pensa. Com Fabiula Nascimento no papel principal, ao lado de Camila Queiroz e Samuel de Assis, o filme mistura humor ácido com reflexões sobre empoderamento feminino. Porém, será que a produção equilibra sátira e leveza ou cai em superficialidades? Nesta análise, destrinchamos os acertos e tropeços para você decidir se vale o play.

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Premissa cativante com toques mágicos

Bia vive sobrecarregada. Publicitária em uma revista feminina, ela lida com um marido acomodado (Emílio Dantas), um enteado malcriado, uma amiga viciada em celular e um chefe machista (Caito Mainier) que prefere influenciadoras inexperientes a profissionais como ela. A gota d’água vem quando Paloma (Camila Queiroz), uma digital influencer, assume o cargo sonhado por Bia.

Em crise, ela consulta Deusa Xana (Polly Marinho), uma guru espiritual que realiza um ritual libertador. De repente, Bia solta verdades sem pudor: insulta o chefe, confronta a vizinha barulhenta e até late para cachorros que a incomodam. O que soa como fábula leve vira sequência de gafes hilárias, reminiscentes de O Mentiroso (1997), mas ancoradas na realidade brasileira de pressões cotidianas.

A premissa engaja ao capturar o esgotamento mental comum entre mulheres de classe média. O ritual com Deusa Xana adiciona um elemento fantástico que impulsiona a trama, transformando frustrações acumuladas em catarse cômica. No entanto, a magia resolve conflitos rápido demais, sugerindo que o empoderamento basta um estalo para florescer, sem explorar raízes profundas do problema.

Elenco afiado e química natural

Fabiula Nascimento carrega o filme nas costas. Sua Bia é autêntica: vulnerável no início, explosiva depois, mas sempre humana. Ela equilibra exageros cômicos com momentos de dúvida, gerando empatia imediata. É o primeiro protagonismo de Nascimento nas telas grandes. Críticos elogiam como ela evita a caricatura, tornando a transformação crível.

Camila Queiroz surpreende como Paloma. Longe dos estereótipos de influencer fútil, ela ganha camadas: ambiciosa, mas solidária, virando aliada inesperada de Bia. Samuel de Assis, como o ex-namorado manipulador, subverte sua imagem de galã, entregando um machismo velado que incomoda na medida certa. Emílio Dantas e Caito Mainier completam o time com toques satíricos: o primeiro como o parceiro egoísta, o segundo como o chefe hipócrita que ri das próprias piadas ruins.

O elenco secundário, com Júlia Rabello como a irmã excêntrica e Patrícia Ramos como a amiga distraída, adiciona leveza. A dinâmica flui bem, com diálogos afiados que geram risadas orgânicas. Ponto para a diversidade: atrizes como Poly Marinho, no papel místico de Deusa Xana, injetam energia afro-brasileira autêntica.

Direção leve e roteiro sarcástico

Arthur Fontes dirige com mão firme, mas sutil. Ele mantém o tom cômico sem forçar, usando enquadramentos simples para destacar o caos interno de Bia. A fotografia capta o cinza opressivo do dia a dia urbano, contrastando com explosões coloridas pós-ritual. A montagem acelera nas sequências de confrontos, criando ritmo que prende o espectador.

O roteiro de Tati Bernardi brilha no sarcasmo. Conhecida por crônicas afiadas, ela abrasileira a trama com referências a trânsito caótico, redes sociais tóxicas e desigualdades salariais – mulheres ganham 20% menos que homens em cargos iguais, como cita o IBGE. O humor surge de observações cotidianas: quem nunca quis mandar o chefe às favas? A trilha sonora, com Iza em faixas empoderadoras, reforça o recado sem soar panfletário.

Ainda assim, Fontes peca na sutileza. Cenas de orgasmo ou prazer feminino saem patéticas, mais constrangedoras que libertadoras. A direção de arte reforça estereótipos – a casa da guru tem porta em formato de vagina –, priorizando o visual chamativo sobre a profundidade.

Temas feministas com sátira afiada

O filme acerta ao escancarar o machismo sutil: “esquerdomachos” coniventes, silêncio sobre prazer feminino e ausência de lideranças mulheres no trabalho. Bia vira manifesto ambulante contra o trabalho emocional invisível que mulheres carregam. A rivalidade inicial com Paloma evolui para sororidade, evitando clichês e celebrando redes de apoio.

A crítica social vai além: aborda burnout, dependência digital e tabus sexuais com leveza. É empoderador ver Bia reconectar-se ao corpo e emoções via Deusa Xana, símbolo de ancestralidade feminina. No contexto de 2025, ressoa com debates sobre saúde mental pós-pandemia.

Porém, o discurso patina na ingenuidade. Soluções mágicas recompensam ira imediata – insulto leva a promoção –, ignorando mudanças estruturais. Falta nuance: o filme morde a mão das redes sociais, mas as usa como salvação. Isso beira o conservadorismo, culpando só a “boa vontade” individual pelo fim do patriarcado.

Acertos e tropeços na execução

Os trunfos estão no equilíbrio entre riso e reflexão. Cenas como Bia confrontando o marido ou a vizinha geram gargalhadas identificáveis, enquanto o arco de autodescoberta emociona sem melodrama. A produção da Conspiração Filmes é caprichada, com distribuição H2O Films que garante alcance amplo.

Tropeços surgem na repetição: a segunda metade alonga confrontos similares, enfraquecendo o ritmo. Personagens secundários, como Paloma, pedem mais tela – Queiroz merece expansão. O exagero cômico vira caricatural, com som artificial criando um “mundo-bolha” desconectado.

No geral, prevalece o afiado: uma comédia que usa sátira para resistir, como espelho da sociedade imperfeita.

Vale a pena mergulhar nessa catarse?

  • Nota 7/10: diverte mais que aprofunda, mas acerta no essencial – rir para curar.

Sim, para quem busca entretenimento leve com pitadas de ativismo. Fabiula Nascimento eleva o material, e o humor de Bernardi diverte sem ofender. Ideal para noites de Netflix com amigas, discutindo machismos reais entre pipoca.

Se prefere comédias densas como Que Horas Ela Volta?, pode frustrar pela superficialidade. Para fãs de Meu Passado Me Condena, é deleite garantido. Assista e solte suas verdades: o filme incentiva isso.

Uma Mulher Sem Filtro celebra a voz feminina com humor e coração, provando que o cinema brasileiro sabe rir de si mesmo. Fontes e Bernardi entregam uma fábula moderna que, apesar de tropeços na profundidade, empodera e entretém. Em tempos de sobrecarga digital e emocional, Bia nos lembra: às vezes, basta falar para mudar. Corra para a Netflix – e saia sem filtro.

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Magdalena Schneider
Magdalena Schneider
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